domingo, 26 de maio de 2002

Histórias Podres



Happy End


Os dois caras, antes de sair para qualquer lugar, iam sempre comer xis e beber ceva.
Mosquito e Farinha, respectivamente com 15 e 17 anos, certa vez, decidiram curtir a noite de uma sexta-feira. Eram meados de 1994, os dois iriam entrar no Happy End, uma casa noturna para dançar, beber, e se divertir. Pois bem, entraram.
Farinha, mais baixo, magro, cabelo padrão usava roupas padrão (camisa, calça, sapato). Mosquito, alto, magro, cabeludo vestia uma jaqueta jeans desbotada, calça jeans, camiseta do Iron Maiden e um tênis preto.
Mosquito estava na fase de recém fumante, estava no começo do vício. Farinha dava as suas tragadas de vez em quando, mas não viciou no cigarro.
Novo Hamburgo estava vazia, aquela era atípica noite de sexta-feira, o local não estava lotado como sempre, vários casais dançando na pista de dança. Poucas mulheres solteiras. Os dois estavam fudidos, sabendo do fracasso inevitável, começaram a beber. E dê lhe ceva. Observação: Como é que deixaram dois guri de menor entrar? Pela lei isso não é permitido, mas os caras não queriam saber, pagando qualquer um entra. Os dois eram fisicamente privilegiados, isso também é um fator a se considerar.
Os dois estavam bêbados e a imaturidade começou a se manifestar:
- Cara, tava pensando numa coisa...
- Que coisa? - perguntou Farinha
- Que que tu acha da gente dar uma banda lá na pista e passa a mão na bunda daquelas guria?
- Mosquito, sabe que é uma boa idéia?
- Vamo lá?
- Vamo.
Então Farinha foi na frente. Os dois estavam se fazendo de louco e dançavam, chegaram em algumas minas e não faturaram. Farinha começou passando a mão de leve numa bunda. Mosquito observou que não havia ocorrido reação negativa daquele fato ter acontecido sem a devida autorização da dona da bunda, e seguiu o exemplo do amigo. Farinha começou a se entusiasmar, e cada vez que passa perto da bunda de alguma mina, ele começava a passar a mão cada vez mais forte, apertando aquilo com gosto. Mosquito concluiu que devia parar, aquilo estava ficando perigoso, e pensou que não era legal passar a mão na bunda das minas. Farinha, bêbado demais para pensar, viu a melhor bunda da festa na sua frente, não resistiu, enfiou a mão bem no fundo, deve Ter passado a mão lá na buceta da guria e puxou passando pelas nádegas. A guria chegou até a levantar quando o fato ocorria. Mosquito chegou para Farinha e falou:
- Cara, passar a mão na bunda das guria não é legal, elas não gostam. Se agente tivesse ficado com alguma garota, ou isso fosse uma zona, tudo bem. Bah, que merda que agente fez?
- É, vamo bebê.
Subiram até os camarotes, onde não haviam mesas reservadas, pegaram uma mesa vazia, uma cerveja e dois copos. Começaram a comentar os fatos:
- Sabe que tinha umas que até gostavam quando eu passava a mão?
- Pior que é – disse Farinha – mas tinham outras que não gostaram muito. Tu viu a última que eu enterrei a mão?
- Vi, e sabe duma coisa, essa não gostou, mas ela tinha uma “senhora bunda”.
- Que bunda, essa mão aqui é que sabe!
Enquanto isso, a dona da “senhora bunda” relata os fatos ao namorado, que mijava enquanto sua namorada levava uma mão no rabo. Este indignado pergunta:
- Tu viu onde esse cara foi?
- Ele subiu lá em cima com um cabeludo.
O namorado da garota virou macho. Pegou a garota:
- Me mostra quem é o cara, que ele vai ver o que é bom!
Chegando na frente da mesa o macho começou a apertar. Viu Mosquito com os cabelos soltos na cara, um cigarrinho na boca, a maior pinta de marginal atirado naquele camarote. Do outro lado da mesa, Farinha, com aquela cara de normal.
Então, após um vacilo, o cara relativamente cagado estava com a sua situação complicada. Ele tinha que tomar alguma atitude. Chegou para o Farinha:
- O cara, tu que passou a mão na minha guria?
- Sim.
- É mas ela não gostou, sabia?
- Não.
- Eu só não te quebro a cara, por causa da minha mina.
Mosquito, ciente da situação, já olhava a garrafa de cerveja como uma arma. Tá certo que eles estavam errados, mas jamais deixaria o amigo apanhar.
- Ah, é? Tá certo então. – respondeu como se tivesse sangue de barata.
- E não faz mais isso, tá ligado. Isso vai ficar na mente.
- Pode crê.- deu uns tapinhas no ombro do cara, como se fosse amigo dele.
O cara ficou encarando ao mesmo tempo em que ia saindo devagarinho.
- Que foi que o cara disse? – perguntou Mosquito.
- Ah, ele veio tirar satisfação, mas eu acho que ele apertou quando viu que não podia. O cara veio se fazer de macho pra guria.
- É um cagado, porque ele não te bateu? Se fosse macho mesmo, ele te batia e não tava nem ai.
- Eu sei que podia com o cara, mas ele tava com a razão.
- Pra mim não interessa, se eu visse tu apanhando ia voar essa garrafa na cabeça do magrão.
Mosquito, acendeu mais um cigarro, faziam uma pausa. Olhavam as pessoas dançando lá embaixo. Não havia o que fazer naquele lugar. Eles já haviam queimado o filme com rolo e tudo. Farinha tomou o resto da cerveja. Decidiram ir embora. Foram até o paradão esperar o primeiro ônibus. Ao chegar no local deitaram nos bancos.
Mosquito sentiu necessidade de cagar. Ele havia comido antes de sair de casa, depois, comeu mais um xis. Com toda aquela caminhada, barriga cheia, o processo da digestão:
- Bah, to cuma vontadi di cagá!
- Vai no banheiro público - falou Farinha.
- Não dá tempo, e papel.
- Papel tem ali.
- Essas folha de propaganda de curso de sei lá o quê nesses banco. Vo pegá isso aqui mesmo.
Mosquito olhou para uma rua perpendicular ao paradão e foi. Viu uma garagem dum prédio, o local estava escuro. Chegando lá arriou as calças e cagou na frente do portão da saída de veículos. Limpou o cu e jogou o papel cagado em cima da merda. Farinha, na mesma rua, dava uma mijada num muro enquanto vigiava para ver se ninguém iria pegar o amigo no flagra. Nada aconteceu; voltaram ao paradão. Ao amanhecer, a brigada militar passou pelo local encarando. Só os dois atirados nos bancos. O ônibus chegou e foram embora.


Aniversário da vovó

Mosquito (20) encontrou o primo Bergamota (21) no aniversário da vovó. A festa ocorria na Sociedade Fraternal, ali perto da Sinoscar de Novo Hamburgo. Era Sábado. Depois de ter comido, posado para as fotos junto com os primos, batido uns papos com os tios e aquela coisa toda de aniversário. Bergamota sugere a Mosquito, que os dois deveriam dar umas voltas. Mosquito topou. Bergamota pegou a fiorino da firma da mãe dele. Os dois saíram.
Bergamota falava as novidades:
- Comi uma mina lá na praia. Muito gostosa...blá, blá, blá.
- Vamo tomá uma ceva?
- Cerveja boa é cerveja cara! Vamo lá no valão.
Os dois foram pro Candieiro, um puteiro perto da Fenac, na Nações Unidas.
Chegando lá sentaram numa mesa. Duas prostitutas sentaram ao lado dos dois.
Mosquito estava com uma moreninha coxuda e peituda. A outra puta era mais velha e estava do lado de Bergamota. A moreninha chegou e colocou uma das pernas no colo do Mosquito. Este já abraçou com o braço esquerdo, enquanto o direito já apalpava os peitos. A puta velha queria ceva. 10 pila, três latinha.
Ficaram conversando, enquanto isso, bergamota olhava admirado o primo que tentava enfiar a mão na buceta da mulher, mas não conseguia porque ela pegava a mão dele e afastava. Isso de ser uma técnica de puta, ou seja, deixar passar a mão nos peitos, na bunda, nas coxas, dar umas lambidinhas no ouvido do cliente de vez em quando, além de dar risadinhas, chamar de meu amor, dançar esfregando a bunda no pau do cara, sem tirar a roupa é claro. Bergamota dançava com a puta velha. Mosquito recebeu a proposta da puta que o deixou de pau duro: “30 pila, completo”. A puta velha pediu 50. Os dois estavam fodidos. Saldo total = 20. Os dois queriam fudê, porém sem dinheiro nada feito. Duas e pouco, ou três da madrugada. As putas entram num táxi, e convidam os dois para ir no Bonanza. Os dois não tinham nem 15 pila pra entrar no Bonanza onde a bebida era liberada.
Decidiram ir embora. Foram dar uma volta na avenida Independência em São Leopoldo. Pararam num bar e beberam os 20.
Bergamota tinha maconha no carro, depois de bêbados, os dois pegaram ruas pouco movimentadas da Feitoria e de Lomba Grande. Mosquito esmurrugava a mercadoria, depois enrolou, e os dois fumaram o charuto que tinha a grossura de um dedo mínimo. Muito chapado e muito bêbado, Bergamota pergunta:
- Tá afim de dirigir?
- Tô tirando carteira.
- Não faz mal, tu sabe dirigir?
- Sei.
- Dirige?
-Tá bom, eu dirijo.
Mosquito conseguiu andar a 40Km/h em terceira. Rua deserta e tal.
- E ai, dirijo bem?
- É, tu vai ser um bom motorista! Deixa eu te mostrar agora como é que se faz.
Bergamota voltou ao volante e meteu 130Km/h no ponteiro.
O outro sentado ao lado só pensava em como seria morrer se seu primo perdesse o controle na rua da integração. O que será que sairia no Jornal NH no outro dia? Ele imaginava como seria a notícia no jornal, o cara escrevendo a matéria no computador, uma impressora gigante imprimindo folhas. Os conhecidos no seu enterro.
Bergamota não pensava, ele agia. Dizia que tinha um motor na ponta do pé. Uma máquina que faz andar. Era o piloto. O carro era um brinquedo, assim como um 38 para um guri de 6 anos.
O carro pulava e os dois conversavam calmamente sobre diversos assuntos envolvendo sexo, putaria, música, a cidade, as pessoas, psicologia, astronomia, política, religião, família.
Chapados até o fim vieram a Novo Hamburgo e voltaram a São Leopoldo. Passaram novamente pela Independência e voltaram para Novo Hamburgo. Então, estavam pela 1º de março, e ao lado da loja Móveis Líder “os porcos” (brigada militar) atacando. Tiveram sorte; passaram reto, e Mosquito com um baseado aceso na mão. Bergamota e Mosquito filosofaram, até que foram embora. A noite havia acabado.

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