quinta-feira, 12 de fevereiro de 2004

Equívoco filosófico?

Por vezes, bate uma saudade de um tempo que não existe. Tínhamos parcerias que se foram e agora nossos amigos são sobreviveintes dos riscos ocorridos à toa. Tudo foi, o barco afundou, o filme acabou, meu final feliz é ler um livro sentado numa cadeirinha de praia, nos fundos de casa, num sábado à tarde do mês de janeiro.

Eu nunca tive nada como: carro, namorada, dinheiro, sexo alucinado, bacanais, drogas pesadas, conhecimento a respeito de culturas estrangeiras, viagens pra fora... Tudo bem, a vida é minha, problema é meu.

Saíamos, éramos mais jovens (quatorze, quinze, dezesseis anos) e irresponsáveis. Mentíamos, roubávamos de maneira justa. Nunca estava preparado para as situações. As garotas eram todas loucas, queixavam-se que nós homens éramos boçais, mesmo assim, elas gostavam. Sempre respeite muito as pessoas, algumas vezes, isso era considerado um erro. Fantasmas do passado.

A insegurança era uma constante, a cura vinha sempre de um cigarro ou bebida alcoólica.

Vejo um mundo como um complexo de loucuras e muita gente seguindo seus caminhos embalados nas idéias de poucas pessoas. Tudo feito e planejado para alimentar os mecanismos de sempre. É claro que de vez em quando a "moda" muda, acontece o fenômeno de alguma coisa ficar inserida para sempre.

O comportamento individual até pode mudar, em alguns casos, de um jeito que o indivíduo ao olhar para trás, pensa que se fossa a mesma pessoa, hoje seria obsoleto.

A massa não muda assim. É a mesma durante anos. Li um texto de mil novecentos e setenta e cinco, que continua tão atual, como se tivesse sido escrito hoje de manhã, em dois mil e quatro.

O tempo não passa, é sempre o mesmo. Coisas vão e ficam. Atravesso anos observando os mesmos medos, as mesmas notícias, tudo igual. Há sempre um ou outro rebelde, assim como outros, antes desses.

A autenticidade é esmagada com essa mania de imitação. "Eu quero ser como aquele ali, aquela roupa na vitrine, o carro, o tênis, o joguinho, o cabelo, o perfume, o estilo, a filosofia." Tão pouco sabemos da sinceridade de nossos sentimentos e escolhas. Muitas são as idéias disparadas em nossas cabeças. Somos alvos, vítimas descarregando e criando novas vítimas de nós mesmos. Criamos pressões desnecessárias para que tudo funcione.

O funcionamento é precário. Uns crescem, outros afundam, e a satisfação não está em todos os olhares. Coisas pequenas, pequeníssimas. Sonhos que nunca irão se realizar. Besteiras, mais besteiras. Discussões sem fundamento. Cada qual com a sua importância. Vazio. Convívio forçado. "Ser humano é ser contraditório." Toda mentira, maldade é justificada.

Fingimento é um grande aliado na superficialidade. Línguas venenosas disparando por todos os lados. Eu com a minha mania de dizer somente a verdade ou omitir fatos, ou desviar o assunto, para não ter que dizê-la. Mentir, jamais.

Grandes erros, muitas sacanagens históricas encobertadas nas ilusões e leis inventadas para que ao entrar no labirinto da vida se troque a mesma pela felicidade que virá. Felicidade nunca encontrada. Felicidade...

Existem ídolos, semi-deuses, pessoas destacadas, mitos (aqueles que já morreram, principalmente). Acredite neles, acredite nos autores, na bíblia, escritores, filósofos e esqueça de si mesmo. Fique bajulando, afinal de contas, por que tu irias ter idéia melhor que a deles? Por que teu texto seria melhor? Por que tua música seria boa? Quem sabe se tentares imitá-los? Imitar.

Que é isso? Me perdi no texto. Pensava eu em lembrar de coisas, porém acabei filosofando.

Quem sabe? Sei que autenticidade não se revela para todos, por ninguém a procura.

O negócio é cativar, mexer em sentimentos que os outros pensam ter. É fazer sofrer e emocionar de alegria com besteiras superficiais e fúteis.

As vidas que se arrastam sem vida, corpos autômatos, sem saber sentir, sem sensibilidade.

Nada é como está escrito aqui, meu lance é ti confundir, somente isso, babaca!

Quem parou de ler na linha acima é babaca mesmo, são pensamentos escritos sem a intenção de convencer o leitor de qualquer coisa. O que eu quero é pensar, refletir. Se te faço pensar e teu pensamento influi em tuas ações, comportamento, mesmo que seja na reação de me xingar ou elogiar, o objetivo está alcançado.

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